Herta Mueller foi a ganhadora do Nobel de Literatura deste ano. Ao saber da notícia, fiz a mim mesmo uma pergunta que muitos devem ter, intimamente, se feito: Quem?? Até mesmo publiquei no Bazar um post sobre isso, ao qual a Elaine – do Profe Elaine – me respondeu, via Twitter, que “Herta Mueller é conhecida por obras como Terra de Ameixas Verdes dedicada a amigos romenos mortos no governo de Ceausescu”.
Isso me alertou que estava torcendo o nariz antes de provar o xarope, e me fez pensar sobre quais critérios são levados em consideração para se definir um ganhador do prêmio Nobel, uma vez que ano a ano somos surpreendidos, salvo algumas exceções, com um nome que não fazemos idéia de quem seja.
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Herta Müller (Nitchidorf, Timis, 17 de agosto de 1953) é uma escritora, poetisa e ensaísta alemã nascida na Romênia. Destaca-se pelos seus relatos acerca das duríssimas condições de vida na Roménia sob o regime político comunista de Nicolae Ceauşescu. Foi casada com o escritor Richard Wagner. Foi galardoada com o Nobel de Literatura de 2009 por "com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, retratar o universo dos desapossados”. Wikipédia
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Nem precisei pensar muito sobre o assunto e uma bem vinda luz surgiu sobre o caso. O USA Today publicou uma excelente reportagem em sua versão online intitulada “Nobel literature prize goes to little-known European writer” (Prêmio Nobel de Literatura vai para uma pouco conhecida escritora européia, numa tradução livre e num inglês de rpg). Nele, questionam os critérios de seleção da Academia Sueca, dizendo que, como apontou um membro da mesma na última terça-feira “a comissão pode ser bem eurocêntrica”. No ano passado, “’o então secretário permanente Horace Engdahl declarou sem rodeios que os europeus tendem a ganhar porque eles merecem a vitória, especialmente em relação aos americanos’, a quem Engdahl rejeitou como ‘muito sensíveis à evolução da sua própria cultura de massa’". O secretário permanente da academia Peter Englund chegou mesmo a reconhecer que os membros da academia se “relacionam mais facilmente a literatura escrita na Europa e na tradição européia”. Triste.
Chad Post, diretor da Open Letter Books, diz que “em um determinado ano, pode-se chegar a uma lista de 10-20 escritores de todo o mundo que são merecedores do prêmio, mas, em seguida, ele tende a ir para alguém de que ninguém está mesmo falando", o que mostra que ter um nome bem estabelecido no cenário não é fator determinante para uma eventual eleção.
Para o jornal, a escolha de Mueller faz sentido por estar “de acordo com um objetivo declarado por Engdahl ano passado, mas executada esporadicamente: ‘O objetivo do prêmio é torná-los famosos", disse ele, ‘isso quando eles já não são famosos.’" Porém, se este objetivo tem a ver com vendas, ele não está sendo atingido em sua totalidade, pois nem todos os ganhadores passaram a vender mais – comparativamente à publicidade gerada por um Nobel – depois de declarados vencedores, e muitos dos menos conhecidos vencedores estão atualmente com boa parte das obras – traduzidas para o inglês – fora de catálogo, como é o caso de Mueller.
Mas as polêmicas devem ser deixadas de lado. Não se pode menosprezar a obra de Mueller e o prêmio que recebeu apenas pelo fato de ela não vender como Dan Brown. Acredito piamente que qualidade nada tem a ver com popularidade.
Se Mueller mereceu o Nobel, e os US$ 1,4 milhões quem vêm com ele, cabe a cada um de seus leitores dizer. Se não é um leitor, como eu, o melhor é deixar os preconceitos de lado e procurar ler algo dela. É o que vou fazer.
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O post original: Nobel literature prize goes to little-known European writer - By Hillel Italie, AP National Writer
8 comentários:
Também vou procurar algo dela para ler. Levando em consideração seu texto, Luciano, até compreendo os critérios do Nobel de Literatura. O que não estou conseguindo compreender hoje é o Nobel da Paz. Vale outro post. :-)
Abraço
Vanessa,
Realmente é difícil entender um Nobel para o Obama. Não demora e ele é eleito Miss Universo! Temo que, após este ano, não dê tanta credibilidade assim ao prêmio.
Abraço.
Luciano,concordo com muito que você disse,mas é pouco provável que essa senhora tenha a relevância literária de Philip Roth,Amoz Os ou do grande e injustiçadíssimo Ismail Kadaré,que (se isso for critério agora)comeu o pão que o diabo amassou na Albânia comunista.Depois desses prêmios,tenho a impressão que o Nobel respalda sua irrelevãncia-e afinal,os grandes(com G maiúsculo desse século:Proust,Joyce,Virginia Woolf,Borges,Guimarães Rosa e Clarice não levaram).
Excente post,meu caro.Um grande abraço.
Luciano,
Enquanto lia seu post pensei em sugerir outro sobre o Nobel da Paz. Daí vi o comentário da Vanessa.
Mas que foi, digamos, incomum premiar o Obama lá isso foi.
Beijos.
Elaine,
Eu ainda não entendi esta história de premiarem o Obama, mas como passei o dia "na rua" não li muito a respeito. Os Nobéis deste ano foram um tanto quanto inusitados.
Beijo.
James,
O Nobel deste ano está polêmico como nunca. Mas se se levar em consideração que a academia prima pela surpresa, eles estão seguindo a regra. O que não quer dizer que tenhamos que concordar com tudo que fazem, uma vez que grandes lapsos - como você mesmo citou - já foram cometidos.
Abraços.
Luciano,
A própria Herta fez cara de espanto diante da premiação. Herta e Obama foram as grandes "zebras" do Nobel deste ano.
Abraços e bom feriado.
Valdeir,
Concordo plenamente, ninguém esperava que estes dois ganhassem o Nobel. Vai entender.
Abraços.
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