Como são feito os leitores? Como eles nascem e como são moldados? Com esta coletiva busco a resposta para a seguinte pergunta: Quem foi seu Monteiro Lobato? Houve alguém na sua vida que tenha sido incentivador de seu amor pela leitura? Qual foi o pontapé inicial da sua jornada por este mundo apaixonante que é a literatura?
Bom, quando se trata de formação moral/intelectual meu pai tem um importante papel na minha criação. Isso pode ser considerado normal (ou mesmo banal), mas alguns fatores me levam a pensar que, ao menos no meu caso, merece um destaque especial.
Meu pai era mais um filho de uma família enorme, cuja matriarca era uma índia do sertão de Alagoas, uma família pobre e numerosa comandada por um pai severo. Ele só estudou até o primário, no mais foi trabalhar na lavoura para garantir a subsistência e viver oprimido pela miséria, pela seca, e pelo próprio pai, até que, não conseguindo mais tirar o sustento da terra onde viviam, vieram para São Paulo.
Meu pai tinha tudo para ser um pai como o dele foi: severo, ausente, ignorante e chegado numa bebida. Mas não foi.
Meu pai foi o extremo oposto. Desde cedo imprimiu em seus filhos à importância de estudarem para que, segundo palavras dele, "não terminassem ignorantes como ele", e também para que "tivessem uma vida melhor".
E ele se empenhou nisso, penso que a esperança, a vontade de ver seus filhos se tornarem o que ele não conseguiu - sequer pôde - ser, foi o que o motivou tanto. Me lembro bem do primeiro gibi que ganhei dele, era do Pato Donald, a história que mais gostei se passava no Egito, reli várias vezes (não era sempre que o dinheiro sobrava e dava para comprar gibis), foi ali que comecei a gostar de ler.
Do primeiro gibi ao primeiro livro, já falei dele aqui, foi rápido, e daí em diante meu pai sempre me incentivou, perguntando o que estava lendo, e até mesmo perguntando - em tom de censura - o porque de não estar lendo.
Meu pai era um leitor voraz, da D.O.Leitura, que pegava na prefeitura daqui, até livros de bolso do tipo western ou VC Andrews, de jornal antigo até nossos cadernos de escola - que, quando passei para o colegial, sempre arrancavam dele uma exclamação de "não entendo nada do que está escrito aqui" e eu respondia que "também não entendo Mendel muito bem" . Era um hobby, como o cultivo de orquídeas.
Meu pai era assim. Um nordestino de origem e formação humilde, vida sofrida, oprimida e marcada pelo trabalho, que, mesmo assim, superando todas as expectativas ou previsões, se tornou um PAI que gostava de orquídeas.
Se devo alguma coisa a alguém é a ele, e tenho a plena consciência de que devo, muito.
Devo a educação que tenho, o curso que faço, a vida que levo. Me devo por inteiro, por tudo o que sou, embora não corresponda a um vigésimo do homem que ele foi.
*
Não seria justo deixa de citar aqui pessoas com as quais passei boa parte de meus tempos de escola: as bibliotecárias. Em especial àquela que mais exerceu a função que, para mim, devia ser a de todas as bibliotecárias: conselheiras, guia cultural e, porque não, amigas. Então fica meu muito obrigado à D. Ivonilda, com quem mantenho certo contato até hoje.
Meu pai era mais um filho de uma família enorme, cuja matriarca era uma índia do sertão de Alagoas, uma família pobre e numerosa comandada por um pai severo. Ele só estudou até o primário, no mais foi trabalhar na lavoura para garantir a subsistência e viver oprimido pela miséria, pela seca, e pelo próprio pai, até que, não conseguindo mais tirar o sustento da terra onde viviam, vieram para São Paulo.
Meu pai tinha tudo para ser um pai como o dele foi: severo, ausente, ignorante e chegado numa bebida. Mas não foi.
Meu pai foi o extremo oposto. Desde cedo imprimiu em seus filhos à importância de estudarem para que, segundo palavras dele, "não terminassem ignorantes como ele", e também para que "tivessem uma vida melhor".
E ele se empenhou nisso, penso que a esperança, a vontade de ver seus filhos se tornarem o que ele não conseguiu - sequer pôde - ser, foi o que o motivou tanto. Me lembro bem do primeiro gibi que ganhei dele, era do Pato Donald, a história que mais gostei se passava no Egito, reli várias vezes (não era sempre que o dinheiro sobrava e dava para comprar gibis), foi ali que comecei a gostar de ler.
Do primeiro gibi ao primeiro livro, já falei dele aqui, foi rápido, e daí em diante meu pai sempre me incentivou, perguntando o que estava lendo, e até mesmo perguntando - em tom de censura - o porque de não estar lendo.
Meu pai era um leitor voraz, da D.O.Leitura, que pegava na prefeitura daqui, até livros de bolso do tipo western ou VC Andrews, de jornal antigo até nossos cadernos de escola - que, quando passei para o colegial, sempre arrancavam dele uma exclamação de "não entendo nada do que está escrito aqui" e eu respondia que "também não entendo Mendel muito bem" . Era um hobby, como o cultivo de orquídeas.
Meu pai era assim. Um nordestino de origem e formação humilde, vida sofrida, oprimida e marcada pelo trabalho, que, mesmo assim, superando todas as expectativas ou previsões, se tornou um PAI que gostava de orquídeas.
Se devo alguma coisa a alguém é a ele, e tenho a plena consciência de que devo, muito.
Devo a educação que tenho, o curso que faço, a vida que levo. Me devo por inteiro, por tudo o que sou, embora não corresponda a um vigésimo do homem que ele foi.
*
Não seria justo deixa de citar aqui pessoas com as quais passei boa parte de meus tempos de escola: as bibliotecárias. Em especial àquela que mais exerceu a função que, para mim, devia ser a de todas as bibliotecárias: conselheiras, guia cultural e, porque não, amigas. Então fica meu muito obrigado à D. Ivonilda, com quem mantenho certo contato até hoje.
54 comentários:
Luciano que linda a tua história com teu pai! E que exemplo de homem ele foi. Ser de origem humilde é por muitas vezes uma virtude, só quem sofreu com a seca e com todas as dificuldades que vem com ela sabe o que é realmente ter de lutar para viver e sustentar uma família. Ele fez do pai um exemplo de tudo que não queria ser, e se tornou um homem e um pai maravilhoso. E para saber disto basta conhecer você e ver o homem que se tornou. É muito lindo o teu reconhecimento e amor.
Amei teu post e mais ainda saber mais sobre você e conhecer um pouco da história de seu pai.
Beijos na alma!!!
Andréia,
Muito obrigado mesmo. Meu pai foi muito importante em minha vida, a ele devo, no mínimo, minha gratidão eterna.
Beijo.
Os comentários abaixo foram postados originalmente usando o Intense Debate, que parou de funcionar em 18 de Maio de 2009, e foram reproduzidos aqui tal qual foram postados.
que bela historia, Luciano.
Forte abraco,
octavio
Temos algumas coisas em comum: o pai nordestino semi-alfabetizado, o gosto pela leitura e o bom exemplo para seguirmos. Somos dois caras de sorte.
Obrigado Octavio, abraços.
Luciano: Os nossos pais, independentem ente da escolaridade, têm sempre uma lição de vida para nos ensinar.
Parabéns pelo post! É uma bela homenagem ao teu pai! Ele deve estar orgulhoso com o filho que tem!
Até uma próxima blogagem!
Abraço, Susana
Que legal, Luciano. Meus pais não tiveram uma vida escolar completa e tampouco condições de me estimular à leitura. Mas os momentos que eles me propiciaram na infância, foi como se eu fosse um protagonista de cada história que, posteriormente, passei a ler.
Parabéns pelo post!
Abraço.
Com certeza somos, Marcos.
Oi Susana,
concordo, os pais sempre têm algo a ensinar. Particularmente, aprendi muito com os meus.
Abraços.
Oi Marcelo,
é o que conta, o que realmente nos marca: os momentos que passamos com eles e as lições aprendidas.
Obrigado, e abraços.
Luciano, me atrapalhei com este sistema de comentários. desculpe na primeira visita já cometer a gafe.
sobre seu post, gostei muito. A gente se esquece que a cultura brasileira começou no norte. E depois é que o sul foi colonizado. Portanto, nosrdestinos, ao contrário do preconceito sulista, são desejosos de saber, intereligentes e sabem buscar o melhor pra sua fampilia. Seu pai não leu, mas sabia a importancia da educação. Afinal, de que adianta ser um livresco, ter uma enorme biblioteca, ler e ler e não olhar o filho nem zelar pela sua formação. conheço intelectuais assim: lêem e seus filhos nem sequer são notados. Seu pai se fez ao contrário do dele como forma de se auto-afirmar. e nessa questão pai e filho vc ganhou. Parabéns pelo post.
Oi Luciano!
Que postagem linda você fez! tornou-se uma bela homenagem ao seu pai. Me emocionei com cada linha que li aqui. Parabéns pela sua história de vida, por saber aproveitar todos os ensinamentos e exemplos de seu pai e reconhecer o esforço que ele fez.
Grande beijo
Olá,Luciano!
Gostei muito do teu post!
também estou participando,dessa fantastica ideia.
me visite,parabéns!
boas energias
Mari
Olá, Luciano!
Que história linda e comovente! Parabéns!
Estou adorando conhecer outros blogs por causa da blogagem coletiva de hoje. :)
Beijocas!
belo e comovente seu post.Meu pai é também uma pessoa de origem humilde ,daqueles que venceram na vida a custa de muito esforço.Para ele o importante foi dar uma educação de primeira classe para os quatro filhos.isso,graças a Deus ele consegiu.Parabéns pelo post.Abração.
Oi Bea,
tive mesmo um pai excelente, zeloso e preocupado. Apesar de não ter estudado muito nunca se alienou, sempre se preocupou com o futuro dos filhos. Também conheço pessoas que se dizem cultas e não estão nem aí para o desenvolvimento dos seus. Quanto ao comentário não houve gafe alguma, imagine...
Obrigado pela visita, abraços.
Oi Cris,
muito obrigado pelas palavras e pela visita.
Abraços.
Oi Mari, já passei por lá, belo post.
Obrigado pela visita e abraços.
Oi Cláudia,
Obrigado pela visita, esta blogagem também está me proporcionando conhecer excelentes blogs.
Abraços.
Oi James,
Fico feliz que tenha um pai como eu tive, realmente preocupado com a família e com o futuro de seus filhos. Obrigado pelas palavras, grande abraço.
Posso assinar este comentário? :)
Fique à vontade :)
Oi, Luciano! td bem? o grande barato destas blogagens coletivas é esta oportunidade de interação, de "coração aberto". O seu pai é um pouco a minha mãe (já falecida), a falta de oportunidade deles fez a nossa riqueza intelectual. Eles sempre serão louvados, somos o que somos porque eles foram o que foram...feliz daquele que tem família para lembrar e agradecer. bjs.
Olá!
Luciano, seu texto me faz pensar que pobreza não justifica não estudar, não ler. Seu pai deu a todos uma lição. E que bom que você pode contar esta estória...
Beijos.
Oi, Luciano!
Tenho participado de blogagens coletivas, acho que esta é a terceira... e o barato é o mesmo: chegar a lugares nunca antes desbravados... e experimentar um encantamento com as produções que andam na rede!
E como as histórias, as nossas histórias, se repetem... se reinventam em cada terra diferente e distante...
Acho que é isso que nos torna humanos... nos identifica...
Abraços!!!
Excelente texto
Abraços
Excelente texto
Oi Elaine, teu comentário reflete bem o que eu penso sobre o assunto: "somos o que somos porque eles foram o que foram".
Obrigado pela visita, abraços.
Oi Elaine,
Fico feliz que tenha coisas boas para contar de meu pai, e concordo que pobreza não justifica não estudar, ainda mais nos dias atuais.
Beijos.
OI Suely,
Concordo em gênero, número e grau. O fato de descobrirmos novos blogs e interagirmos com outrs pessoas é a melhor coisa proporcionada por estas blogagens.
Grande abraço.
Oi Olavo, obrigado também pela visita, abraços.
Fez muito bem em homenagear o seu pai. Gostei bastante da sensibilidade do seu texto.
Um abraço!
oi :)
Brigado pela visita
Sabe, quando agente 'e criança, nem imagina que pequenas coisas moldarão o que seremos.
eu tenho avaliado muito isso, e agradecido bastante ao caos, ao acaso por ter me mantido fiel a criança que um dia fui.
vc cursa qual faculdade?
bom domingo
;)
Oi Maira,
é verdade, sçao fatos aparentemente insignificantes de nossa infância que vão nos moldando até sermos o adulto que somos. Quanto a faculdade, estou no último ano de Ciências Contábeis.
Obrigado pela visita, abraços.
Oi William, obriago pela visita e pelas palavras.
Abraços.
Luciano, acabo de iniciar a leitura da coletiva pela ordem dos textos na lista . Sinto que meti-me numa enrascada. Ter de escolher entre textos como este será crueldade para mim. Obrigada por participarda brincadeira. Mais que moviementar os blogueiros, exercícios como este servem para enriquecer, e muito.
Abraço
ah, que legal!
pensei que cursava algo relacionado a letras, ou artes
:)
Parabens pela postagem, Luciano, e tambem pelo bom pai que voce tem.
Um beijo e boa semana.
Oi Vanessa,
Foi uma honra participar da coletiva, independentemente de resultado, com certeza saímos enriquecidos.
Abraços.
Até pensei em fazer letras, mas acabei decidindo pela Ciência Contábil. Abraços.
Oi Dade, obrigado pela visita e pelas palavras, beijos e boa semana pra você também.
Oi, já está no Fio a lista com os textos selecionados para a votação que premiará três blogueiros com um livro da Zahar. Conto com você para ajudar nesta tarefa. O link é http://tinyurl.com/dnlozq
Ah, seu belo texto está na lista.
Abraço
Estou lendo os 8 posts que foram selecionados pela Vanessa, o seu é o primeiro da lista. Ao final farei meu comentário. Gostei imensamente da sua narrativa e do modo bonito como escreve. Por isso mesmo faço um pequeno reparo: cuidado com as crases, elas podem não existir.
Oi Luiz,
tenho mesmo um problema histórico com as crases, valeu pela dica.
Abraços.
Oi Vanessa,
Fico muito feliz que meu texto esteja entre os finalistas, adorei participar desta blogagem. Agora é torcer :P
Abraços.
Sua história é uma prova de que somente o estudo, com muita leitura, é capaz de mudar a condição econômica das pessoas.
Seu texto esta entre os melhores, por isso deixo meus sinceros parabéns e desejo boa sorte.
Oi Catarino,
Obrigado pela visita e pelas palavras. Grande abraço.
Parabéns por estar na final, Luciano. Revisitando para decidir em quem votar. Tarefa árdua.
Relendo o seu texto para a votação.
Luciano,
Gostei muito do seu texto e como bibliotecária terminei o texto em êxtase e muito feliz!
Belo exemplo de luta do seu pai e o amor e carinho com os quais ensinou aos filhos não tem preço jamais!
Seja o Monteiro Lobato de alguém!
Beijos Tempestuosos!
Olá Luciano, agradeço sua visita e o seu comentário em meu blog. Ótimo o seu relato. Parabéns! E quando quiser pode passar por lá ok? Irei acompanhar o seu blog. Mais uma vez Parabéns!
Abraços
AnjaDarks
Parabéns pela vitória!
Beijos Tempestuosos!
Oi, muito obrigado, fiquei muito feliz por participar desta blogagem, foi uma boa oportunidade de conhecer novos blogs e interagir com novas pessoas.
Obrigado mais uma vez, abraços.
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