Pra mim, a 1ª série foi um inferno. Primeiro, me separaram de meus amigos habituais de pré-escola, e como miséria pouca é bobagem, minha querida professora me esqueceu trancado em sala de aula durante um intervalo.
Sei que é cruel. Me explico.
Me senti muito deslocado sem meus amigos por perto, estava acostumado às instalações da pré-escola, com tudo pequeno, cadeiras, mesas, sanitários, e com "as tias" sempre sorridentes, me ver numa nova escola, com gente que para mim era como se fossem gigantes, definitivamente não era meu mundo. Certo dia, abatido por estar sozinho, comecei a chorar. Chorei até dormir debruçado sobre a carteira. Na hora do intervalo, a professora mandou que formassem a fila, mandou todos rumo ao refeitório, saiu e trancou a classe. Simples assim.
Não sei quanto tempo depois acordei, mas levei um susto daqueles, sozinho em uma sala de aula repleta de carteiras vazias. Nem sei o que me passou pela cabeça. Do lado de fora, ouvia a algazarra das outras crianças correndo e brincado, o que me tranquilizou um pouco, mas me deixou sem saber o que fazer: gritava por socorro ou ficava por ali até que o intervalo acabasse.
Felizmente não tive que pensar muito na questão. Me viram pelo vidro da janela e começaram a gritar. Pouco depois estava livre.
Ainda chorando muito, me levaram para a biblioteca e me deixaram escolher um livro, para me consolar, não me lembro se demorei muito para escolher ou se peguei um livro ao acaso, mas saí de lá com o "Por um Triz a Elis Ficava Sem Nariz, do mestre João das Neves.
O livro conta a história de Elis, uma menininha que se sente deslocada por ter uma pinta na ponta do nariz. Não me recordo se ela tenta muitos métodos para tirar a pinta do nariz, mas sei que ela o consegue usando uma borracha. Parada na frente do espelho, Elis apaga a pinta com uma borracha mas, no fim da operação, se vê sem nariz.
A partir de então é um pega-pra-capar da Elis atrás de seu nariz fugitivo (pois é, o nariz fugiu, não sumiu), até que consegue pegá-lo no final.
Já fazem 15 anos desde que o li, assim não me lembro muito bem do livro, mas sinto um carinho especial por ele, pois foi minha primeira leitura e, se tivesse optado por um livro ruim, dificilmente teria lido tanto como li nos anos seguintes, e se tive o interesse de buscar por mais, e encontrar clássicos como O Reizinho Mandão e A Casa Sonolenta, foi mérito do autor, João das Neves, e da ilustradora, Denise Rochael.
No dia seguinte, minha mãe foi até a escola, a diretora queria expulsar a professora, minha mãe foi contra, apenas pediu para que me mudassem de classe, assim voltei para perto dos meus amigos.
O que me assusta é a nítida, mesmo estando coma visão embrassada pelo sono e as lágrimas, lembrança das crianças formando a fila para irem a refeitório. Mas eu não me levantei, pelo contrário, abaixei a cabeça apoiando-a na mesa e fiquei em meu lugar.
Hoje penso se não foi um plano intimamente arquitetado por mim para mudar de classe. Se foi, deu muito certo, e, mesmo os possíveis efeitos colaterais foram muito bem vindos, pois, com certeza, conhecer Elis foi o primeiro passo para conhecer Agatha Christie, José Lins do Rêgo, Julio Verne, Robert Louis Stevenson, Simone de Beauvoir, Fernando Sabino, Charles Bukowski ,entre tantos outros.
Meus terríveis primeiros anos de primário, apesar de tudo, que saudades tenho de vocês.
Sei que é cruel. Me explico.
Me senti muito deslocado sem meus amigos por perto, estava acostumado às instalações da pré-escola, com tudo pequeno, cadeiras, mesas, sanitários, e com "as tias" sempre sorridentes, me ver numa nova escola, com gente que para mim era como se fossem gigantes, definitivamente não era meu mundo. Certo dia, abatido por estar sozinho, comecei a chorar. Chorei até dormir debruçado sobre a carteira. Na hora do intervalo, a professora mandou que formassem a fila, mandou todos rumo ao refeitório, saiu e trancou a classe. Simples assim.
Não sei quanto tempo depois acordei, mas levei um susto daqueles, sozinho em uma sala de aula repleta de carteiras vazias. Nem sei o que me passou pela cabeça. Do lado de fora, ouvia a algazarra das outras crianças correndo e brincado, o que me tranquilizou um pouco, mas me deixou sem saber o que fazer: gritava por socorro ou ficava por ali até que o intervalo acabasse.
Felizmente não tive que pensar muito na questão. Me viram pelo vidro da janela e começaram a gritar. Pouco depois estava livre.
Ainda chorando muito, me levaram para a biblioteca e me deixaram escolher um livro, para me consolar, não me lembro se demorei muito para escolher ou se peguei um livro ao acaso, mas saí de lá com o "Por um Triz a Elis Ficava Sem Nariz, do mestre João das Neves.
O livro conta a história de Elis, uma menininha que se sente deslocada por ter uma pinta na ponta do nariz. Não me recordo se ela tenta muitos métodos para tirar a pinta do nariz, mas sei que ela o consegue usando uma borracha. Parada na frente do espelho, Elis apaga a pinta com uma borracha mas, no fim da operação, se vê sem nariz.
A partir de então é um pega-pra-capar da Elis atrás de seu nariz fugitivo (pois é, o nariz fugiu, não sumiu), até que consegue pegá-lo no final.
Já fazem 15 anos desde que o li, assim não me lembro muito bem do livro, mas sinto um carinho especial por ele, pois foi minha primeira leitura e, se tivesse optado por um livro ruim, dificilmente teria lido tanto como li nos anos seguintes, e se tive o interesse de buscar por mais, e encontrar clássicos como O Reizinho Mandão e A Casa Sonolenta, foi mérito do autor, João das Neves, e da ilustradora, Denise Rochael.
No dia seguinte, minha mãe foi até a escola, a diretora queria expulsar a professora, minha mãe foi contra, apenas pediu para que me mudassem de classe, assim voltei para perto dos meus amigos.
O que me assusta é a nítida, mesmo estando coma visão embrassada pelo sono e as lágrimas, lembrança das crianças formando a fila para irem a refeitório. Mas eu não me levantei, pelo contrário, abaixei a cabeça apoiando-a na mesa e fiquei em meu lugar.
Hoje penso se não foi um plano intimamente arquitetado por mim para mudar de classe. Se foi, deu muito certo, e, mesmo os possíveis efeitos colaterais foram muito bem vindos, pois, com certeza, conhecer Elis foi o primeiro passo para conhecer Agatha Christie, José Lins do Rêgo, Julio Verne, Robert Louis Stevenson, Simone de Beauvoir, Fernando Sabino, Charles Bukowski ,entre tantos outros.
Meus terríveis primeiros anos de primário, apesar de tudo, que saudades tenho de vocês.
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